O projeto de pesquisa da Usina-Modelo de Valorização do Biogás e do Lodo da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) avançará para sua fase operacional. A estrutura, que estava em testes no Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará (UFC), será transferida e implantada na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) – Alameda das Palmeiras, no Bairro de Pedras, em Fortaleza.

O projeto, que integra um conjunto de tecnologias inovadoras no saneamento, é pioneiro no país. Ele está sendo desenvolvido pela UFC, através do Laboratório de Combustão e Energias Renováveis, com recursos do BNDES e da Cagece, e será gerido pela Companhia em sua fase operacional.

Segundo Carolina Dantas, gerente da Usina Modelo, a transferência para a ETE é um passo fundamental para o amadurecimento do projeto.

O desenvolvimento da usina já dura mais de nove anos, tendo sido construída “do zero até o status de piloto industrial”, onde passava por validações técnicas e testes. A expectativa é que a Usina esteja pronta para operar 100% em dois anos, explica Carolina. Em geral, as chamadas deeptechs levam de 10 a 15 anos para saírem de pesquisas básicas e chegarem no mercado. 

Próxima Fase Focada em Dados e Modelagem de Negócios
Thiago Dantas, Gestor do Programa de Inovação em Energias Renováveis (PIER) e Gestor do Projeto da Usina Modelo destacou que a usina já foi construída em escala real e que o novo acordo de parceria com a UFC focará na fase de operação e de estruturação comercial do projeto.
“Nesse acordo novo, junto com a UFC, será feita a operação e levantamento de dados técnicos financeiros durante dois anos,” afirmou Dantas. “Durante esse período, a gente vai trabalhar na modelagem financeira e modelagem de negócio para exploração e multiplicação dessa usina.”
Essa fase de operação é crucial para que investidores e stakeholders possam atestar os resultados da tecnologia em campo. Para garantir o sucesso comercial, será contratada uma consultoria especializada em financiamento climático e verde, que irá:
* Construir o modelo de negócio em conjunto com a UFC e a Cagece.
* Modelar o financiamento e a exploração comercial da replicação da unidade em outras ETEs.
A meta é que, ao final dos dois anos, a Cagece possua toda a documentação necessária para estabelecer uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) para explorar a tecnologia, abrindo caminho para um chamamento público. Segundo o GEPED, o interesse de bancos de desenvolvimento e investidores, nacionais e internacionais, já é alto.

Impacto Climático Significativo
O projeto também possui um forte apelo de sustentabilidade e mitigação climática. A partir do próximo ano, a usina instalada na ETE Alameda das Palmeiras terá um impacto ambiental expressivo:
* Redução mínima de 17 mil toneladas de CO2 equivalente.
* Produção de 50 mil toneladas de CO2 equivalente (produzindo energia).

Referência Tecnológica e Cronograma de Obras
A Usina-Modelo foi desenvolvida para ser uma referência tecnológica que a Cagece pretende replicar em suas demais ETEs, além de servir a outras empresas de saneamento do país. O objetivo é integrar sistemas que atendam às necessidades crônicas das ETEs, valorizando o potencial energético do biogás e do lodo para aproveitamento racional desses resíduos e mitigação de impactos socioambientais.

Paulo Henrique Holanda, Superintendente de Obras da Cagece, detalhou o cronograma de implantação no novo local.  “A gente está levando a usina justamente para ter uma oportunidade de multiplicar esse projeto para outras unidades. Lá, na Estação de Tratamento de Esgoto ETE Alameda das Palmeiras é onde vai ser nosso início, nosso start,” afirma o superintendente.

O cronograma de obras é de cinco meses, com início em dezembro. Na ETE Alameda das Palmeiras, a usina utilizará o próprio lodo produzido e os dois reatores já em funcionamento para realizar o tratamento, a coleta de gases e o tratamento da areia.